Vitrine

de novo estou na rua
por ser mulher serei a vítima
me farei rir suave
piadas sem graça descem a garganta
uso salto alto para rebolar melhor
tudo muito sutil
sorriso leve nos lábios
procuro a verdade nos olhos à frente
o assunto parece ser interessante
"desculpe, não entendi, repete?"
sempre gostam de se sentirem interessantes
posso até olhar em volta
mexendo o cabelo, claro
eles sempre checam as proporções
como ficar demais é dar muita bola, saio
mulheres podem ser cruéis
principalmente com outras mulheres
tenho que manter as línguas delas presas
entre os sorrisos sutis
caminham em grupo e sozinhas ao mesmo tempo
eles pensam em sexo mais do que elas
elas sabem
mexer na imaginação alheia
objetivos não claros
tudo pode acontecer longe da rua
por isso dou meu telefone
mulheres se movem com objetivos
mesmo se for não ter um
pode ser considerado uma expectativa
vou beber para me soltar
de alguma forma já não serei eu
o homem também ficará mais confiante
achará que falará mais fácil
que ela será mais receptiva
sorrisos sutis
assuntos interessantes
uma fuga de casa
de si
um encontro
com o inesperado
com a rua
eu arranco a roupa e subo na mesa
canto a música que toca
de salto, calcinha e sutiã
eles também tiram a blusa
se abraçam e pulam
todos gargalham
alguém começa a tocar bateria nos pratos
cantam em coro
começa a chover
todos apontam e riem no meio da rua
para maquiagens borradas
roupas imperfeitas
cabelos desfeitos
"agora entendeu o que disse?"
abro um sorriso ameno e concordo
vi em seus olhos o julgamento
ficar demais é dar muita bola, saio
um dia o carnaval volta
me encontro de volta à vitrine

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