Sem ninguém perceber


Num vulto veloz,
Um véu de noiva.
Aquela mulher,
Mulher abstrata.

Consigo lhe trazia,
Sempre luz à clarear,
Sementes d'agulha,
Em vinho desenhei.

A forma que surgiu
Em meu peito respirar,
Criou-se.

No pensamento ecoava,
Alucinante momento,
Um sofá me amava.


Impulsivo

Nunca foi como planejado
A vida
Com o tempo se tem medo
Do repetitivo
Necessidade de se sentir vivendo
Constantemente

Ser bom em alguma coisa
É fundamental antes de morrer
Pessoas como nós
Precisam falecer com aquele papel
Cumprido
Ou se recusariam

Amar intensamente
É apenas um dos objetivos
Ser amado verdadeiramente
É apenas outro
Com tantos objetivos a serem traçados
Essas pessoas só serão presas ao acaso


O Jogo

Não há aspecto em que as pessoas sejam mais orgulhosas
Do que quando se trata do próprio coração
Expectativas inconscientes são naturalmente esperadas
Necessidade de se proteger é irracional e agressiva
Mas a calma expressão é uma agradável ilusão

A cabeça tem um furacão de idéias
Cada palavra e intenção mostrada são pesadas
A testa lisa e o sorriso relaxado escondem
Medos, teorias e vontades
Será que o outro tem o que precisa?

Tudo corre como previamente planejado
Até a força do beijo foi calculado
O momento matemático da inspiração
Onde muitas informações são recolhidas
Para serem avaliadas

Depois dos primeiros dias
Uma possível agonia
Se as emoções evoluíram como deveriam
A sorte te soprará o ouvido
A não ser que os números tenham sido descartados

O jogo mais antigo da humanidade
É a dádiva de ser um ser pensante
É um fato que todos o odeiam em diferentes graus
E com certeza todos sorriem ao colher os frutos da vitória
Da segurança de ter um terceiro braço pra deitar

Gozei
Chorei
Amei
Ou não
Por sorte ou azar de não querer as verdadeiras dores de amar


Chamada Não Atendida

Eu esperei você ligar todo o dia
Numa cama vazia tive que deitar
Não é que não tenha escolhas
Muita coisa poderia fazer agora
Os lábios carnudos ainda estão na minha boca
E a lembrança de uma memória longínqua me faz relevar

O silêncio significa muitas coisas
A possibilidade de fazer acontecer se perdeu no tempo
A promessa quebrada ecoa entre as orelhas atéias
Os assuntos discutidos passam a ser coisa de momento
E a lembrança de uma memória longínqua me faz relevar

Os ateus que perdoem minha fé momentânea
Tive de fazer a ligação não atendida da confirmação
O que pode estar fazendo agora não importa
As vezes tenho esperança de não te ver mais
Apesar de ter certeza do seu medo
Que provoca aquela atitude
Que ja vi tantas vezes
E pelo jeito verei outras mais

Não atendeu o telefone
Porque não queria falar comigo
O registro esta lá, permanente
Na minha memória a ecoar

Decidi ja a aceitar as desculpas
Fingir que não analizei o reencontro
Do meu sentimento de dúvida e da desilusão
Farei aquele sorriso ameno
As juras que queria ouvir

Não serei mais romântica
Uma vez me prometi
A lembrança de uma memória antiga me faz relevar
E sorrir ao ver de novo
A saudade que deixou aqui
Para eu pescar


A Mexicana


Acordado fico imaginando
Tudo que vai passando
Vendo tudo se acabando

Confuso eu ficava
A noite chegava
Na rua, talvez estava

Um amigo encontrei
Com ele conversei
Para ele eu falei

Uma cerveja vamos tomar
Uma história lhe contar
Uma mulher a me esperar

Tenho uns trocados no bolso
Na carteira um beck grosso
Os arcos da lapa: maravilhoso

Seu olhar era lindo
Eu timido rindo
Ela estava vindo

Uma energia surgia
Um dois ela me pedia
Mexicana, ela dizia

Destraída, sua fala era pouca
Minha mente completamente louca
Beijava, tão doce sua boca

Tudo agora está escuro
Pela escadaria eu murmuro
Pessoas observam pelo muro

Com o sol eu acordei
Como durmi não sei
'Mexicana', então pensei

Seu sorriso, sua pele
Seu nome, Nathiely
Nathiely...


Fábula


*

Era a história de uma menina que não sabia chorar.
Sentia tudo o que sentiam os anjos.
Mas não sabia o que era sofrer.
Não sabia o que era o humano.
Mas sabia o que era o querer.
Fitava nas águas sua imagem, e acreditava que era um ser
de muitas ondas e muitas viagens,
muitas paisagens e muito, muito querer.
Queria apenas, e seu desejo valia a pena, mesmo sem saber o que queria.
Mas se valia, a ela bastava, e não entendia por que sofrer.

Um dia, feita de nuvem, voava alto, até que o Sol,
centro de tudo o que os homens vivem e crêem, lhe perguntou porque viver se nada sabia sobre sua vontade. E ela lhe disse que mais valia querer e querer.
Lhe disse o Sol que se não sabia o que queria era porque nada queria então. Pois não há querer sem algo que se queira.

Ela pensou, sorriu, e lhe disse:
Só conheço o céu e o canto das estrelas, não tenho missão,
nem mesmo coração, sou feita do pó que voa com o vento, feita daquilo que segue sem porquê, sou feliz por não saber meu destino, que é o destino do acaso onde mora Deus. O Deus sem memória, sem ida nem volta, um Deus sem história, que ninguém pode ver.
Não sou dos homens, ou dos anjos, nenhum deus me cuspiu
ou comeu, nenhum ser sabe ao certo se existo.
Nem mesmo eu, nem mesmo Deus.
Então sigo somente, feliz e contente. Por não ter amarras
ou mesmo correntes.

E o Sol se calou e chorou pelos homens, pois já não era simplesmente, mas sim o que queriam que ele fosse.

***

(in 'Mensagens Inconscientes', 2002)
(foto by Drix, praça Paris, Glória, RJ)


Pílula da Felicidade

Veja Jô na tv com um olho aberto
Finja dormir no sofá para ser acordado com carinho
Se por acaso morar sozinho
Finja amar alguém só um pouquinho

Para assim poder rir sozinho com todos os dentes
E dar conselhos amorosos para quem precisa
Porque para os outros temos uma ótima análise
Enquanto quando é para nós mesmos a coisa complica

Finja bem para não ser só fachada
Ou o coração não acredita
A farsa tem que ser bem feita
Ou todo esse precioso placebo desperdiça

É muito bom sentir saudades
Cantar no chuveiro e emagrecer
Escapar dos olhos as maldades
Nem se incomodar com o desemprego

Conhecer pessoas é novidade
Anima a alma da gente
Junto da esperança e da procura dos olhares
Fica essas rimas descartáveis e inocentes


Sonho de um infante.

Minha alma
Clama mudança.
Mudança de esperança,
Necessito de mais calma...

Vejo pacatos
Cidadãos calados.
Silêncio alienado, parado...

Sinto vergonha
Da gente que mente.
Como pode o pobre nem ter dente?

Ouço o choro
Do meu povo segregado.
Segregados no mundo globalizado

Oh,Minha imaginação!
Leva-me ao paraíso.
Não vou viver com isso,
É tempo de renovação...


É algo...




È algo no atrito da caneta com o papel,
Frenético,
Possuído pela energia dos deuses,
O roçar das folhas em minhas mãos,
A forma como as letras surgem, uma após a outra,
Como uma dança, criando frases e sentenças
Significados complexos,
Onde segundos antes só havia espaços vazios...

É a mistura de dois tons,
Delicada,
Unindo-se para formar um terceiro
Colorido,
Novo e surpreendente,
O contato do pincel com a tela
Imortalizando um sublime momento aos olhos do artista,
Que de outra forma se perderia para sempre...

É algo na luz, no cheiro de fantasia e imortalidade
Sublime,
É a vibração que a sua alma sente naquele tablado,
Sabendo viver uma vida que não é tua
E torná-la tua em essência,
É descobrir que você é muito mais do que todos os papéis
Que lhe foram sendo impostos ao longo da vida...

É algo na areia que engole seus pés
Calorosa,
O sussurro do vento brincando com seus cabelos
A canção interminável do mar,
Acompanhado da serenata das aves,
O murmúrio infindo das ondas
Derrubando débeis castelos de areias.
Sua pele queimando salgada
Sentindo o gosto do oceano...

É algo nas mãos dadas,
Os dedos entrelaçados,
Forte,
Os olhos nos olhos,
Sorrisos sinceros,
Um aroma que não tem nome,
Mas lhe causa vertigens,
Suaves e aterradoras...

È ouvir o barulho de uma queda d’água
E correr até ela para admirá-la,
Os pés descalços sentindo a umidade da terra,
Sozinho,
Contemplando as estrelas
Nu em uma noite quente de verão,
Após um dia de chuvas,
Passageiras,
Sendo abraçado pela imensidão do universo
Sentindo-se pequeno nessa infinitude
Encontrando em mim mesmo a plenitude...

É algo no riso de um bebê, no vôo do beija flor, no cafuné...
É algo no riso dos palhaços, ate os tristes...
É algo no pôr do sol, e no seu nascer,
É algo no altar construído por suas próprias mãos
É algo em uma fitinha de santo, dada por alguém que você ama,
È algo no beijo apaixonado
E no abraço de saudade

É algo que não sei explicar,
É algo que geralmente nem dá pra pensar,
Ou passar
Pra alguém...
A não ser por sorte talvez...
É algo que levo comigo sempre
Em todo o lugar
E acredite
Faz toda a diferença...

Porque olhar não é igual a ver,
Gostar não é como amar,
Querer bem não é o mesmo que se entregar,
E sexo é algo realmente diverso do amor,
E seguindo sem saber como chegar
Eu vou...
Rir meus risos,
Misturar os meus tons,
Cantar as minhas canções,
E viver as minhas histórias de amor...
Sem saber como
Eu vou
Sabendo como
Eu vou
Sem saber
Eu vou
Vou sabendo
Sem como
E nem porque
De que
Só vou
Só sou...
Amor...


Ausência tua




Depois te tanto tempo,
Tanto tento...
Depois
De tanto desalento,
De descobrir
O quanto sou pequeno,
Perto desse sublime
Sentimento,
Que tanto tento
Apagar...
Mas que sinto,
Cada vez mais,
Sem censura,
Seu nome não se diz,
Se sussurra,
E eu digo a mim mesmo
Que o mal que sofro
Que me tortura, é
A ausência tua

Uma doença antiga
E que não tem cura
Já cresci, já casei, já amei
Mas esse sentimento,
Ainda perdura,
E nas noites frias
É quando mais sinto
A ausência tua

Porque de tua mordida
Correu o turvo sangue
E rios secaram,
E os cílios se tocaram,
A última vez

E agora não há nada que cure
A marca
Da tua mordida
Da minha ferida
A minha mordida
A tua ferida
A marca
Deixada
Que não tem cura
Nada, nada, nada,
Que possa aliviar,
Que possa apagar,
A ausência tua

E com minhas lágrimas regarei os campos que crescerão. Dessa forma meu choro não terá sido em vão. Ouvirei os lamentos das aves e das crianças, e saberei que sempre seremos um só. Eu, você e todas as coisas belas do mundo. E no meio dos meus iguais nunca estarei só. De minha mente perturbada pela dor sairão belos versos e lindas canções de amor. Pensarei em você todos os dias, sem pular um só. E darei ao mundo todo amor que não pude dar a você. E nada terá sido em vão.